domingo, 11 de janeiro de 2015
Quase nada
Passo e amo e ardo.
Água? Brisa? Luz?
Não sei. E tenho pressa:
levo comigo uma criança
que nunca viu o mar.
[Eugénio de Andrade]
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015
Tisana 59
. a história é infinita. podemos interceptá-la em qualquer ponto. era uma vez uma cidade onde os habitantes sabiam tanto do sofrimento humano que quando acordavam deitavam-se logo.
[Ana Hatherly]
segunda-feira, 5 de janeiro de 2015
Garganta inflamada
formoso amigo meu, podes cantar à lua
e amar outros mais lestos do que eu,
roer um osso, admirar as estrelas,
seres sábio e humano, além de belo.
já vi que escreves um diário, com
as patas firmes, o pêlo luzidio,
e versos, onde porém há sempre
uma sílaba a mais, presa por fios.
pouco te importa se eu existo ou não,
e ignoras, das aranhas, o tormento
quando a teia se rasga e é urgente
tomar medidas, e tecer, à espreita
de alguma inócua presa imprevidente.
voas tão solto, lá no firmamento,
que te tomam por pássaro ou cometa;
e meditas em vastos pensamentos... só não sabes
que ao rasgares o meu leito aqui deixaste
uma gota de sangue, a que estás preso.
[António Franco Alexandre]
sábado, 3 de janeiro de 2015
Último poema
É Natal, nunca estive tão só.
Nem sequer neva como nos versos
do Pessoa ou nos bosques
da Nova Inglaterra.
Deixo os olhos correr
entre o fulgor dos cravos
e os dióspiros ardendo na sombra.
Quem assim tem o verão
dentro de casa
não devia queixar-se de estar só,
não devia.
[Eugénio de Andrade]
This dreams of you
Pergunto-me desde quando
deixou de haver futuro
nas janelas.
Janeiro dói nos olhos
como areia
e tu e eu estamos para sempre
sentados às escuras
no Verão.
[Rui Pires Cabral]
Subscrever:
Mensagens (Atom)