terça-feira, 11 de março de 2025

Leitor:

Mesmo que a vida te pese

e não chegues a saber

se o amor é um abrigo

ou um abismo.

[Rui Pires Cabral]

You've hurt me

but I've hurt other people before,

so I guess it's ok


 

[František Drtikol]

segunda-feira, 10 de março de 2025

As time goes by

 «Meu rapaz, você é demasiado violento», disse o director. «Está a enterrar o seu futuro!»

«Não quero ter um futuro, quero ter um presente. Isso parece-me ter mais valor. Só se tem um futuro quando não se tem um presente, e quem tem um presente não se lembra sequer de pensar num futuro».

[Robert Walser]

O que acontece onde tudo acontece


A poesia é onde tudo acontece. Como o amor, o humor, o suicídio e todos os actos fundamentalmente subversivos, a poesia ignora tudo menos a sua própria liberdade e a sua própria verdade. Dizer “liberdade” e “verdade” em referência ao mundo em que vivemos (ou não vivemos) é dizer uma mentira. Só não é mentira quando se atribui estas palavras à poesia: o lugar onde tudo é possível.

Em oposição ao sentimento de exílio, ao sentimento de saudade perpétua, está a terra prometida pelo poema. A cada dia os meus poemas são mais curtos: pequenos fogos para quem se perdeu numa terra estranha. Em poucas linhas, tenho por hábito encontrar os olhos de alguém que conheço à minha espera; coisas reconciliadas, coisas hostis, coisas que produzem incessantemente o desconhecido; e a minha sede perpétua, a minha fome, o meu horror. Daí vem a invocação, a evocação, a conjuração. Em termos de inspiração, a minha crença é completamente ortodoxa, mas isso não me limita de forma alguma. Pelo contrário, permite-me debruçar-me sobre um único poema durante muito tempo. E faço-o de uma forma que lembra, talvez, o gesto de um pintor: Fixo a folha de papel na parede e contemplo-a; mudo palavras, apago linhas. Por vezes, quando apago uma palavra, imagino outra no seu lugar, mas sem saber sequer o seu nome. Depois, enquanto espero por aquela que quero, faço um desenho no espaço vazio que alude a ela. E esse desenho é como um ritual de convocação. (Acrescento que a minha atracção pelo silêncio me permite unir, no espírito, a poesia à pintura; nesse sentido, aquilo a que outros chamariam o momento privilegiado, chamo eu de espaço privilegiado).

[Alejandra Pizarnik]

Ser outra; perigoso e necessário

 

Fazer pelo menos uma vez o que nunca se fez. Seguir, nem que seja um dia, uma hora, um caminho diferente daquele que o caráter nos dispôs.

[Christian Bobin]

sábado, 8 de março de 2025

quinta-feira, 6 de março de 2025

Rivers and roads


                                                Oh rivers 'til I reach you



[Micoló, São Tomé, Fevereiro 2025]

quarta-feira, 5 de março de 2025

Escaleras de metal


Quase tão casta como uma faca,

puro metal de morte.

[sylvia plath]

: Ya no me recuerdo en que desilusión me dejaste de importar

 

Porque viajaste?
Porque a casa estava fria.
Porque viajaste?
Porque é o que sempre fiz entre o crepúsculo e a aurora.
O que vestiste?
Vesti um fato azul, uma camisa branca, uma gravata amarela e
                                                                         meias amarelas.
O que vestiste?
Não me vesti. Um lenço de dor manteve-me quente.
Com quem dormiste?
Dormi com uma mulher diferente em cada noite.
Com quem dormiste?
Dormi sozinho. Dormi sempre sozinho.
Porque me mentes?
Sempre pensei que te dizia a verdade.
Porque me mentes?
Porque a verdade mente como nenhuma outra e eu amo a verdade.
Porque partes?
Porque nada significa já muito para mim.
Porque partes?
Não sei. Nunca soube.
Quanto tempo deverei esperar por ti?
Não esperes por mim. Estou cansado e quero descansar.
Estás cansado e queres descansar?
Sim, estou cansado e quero descansar.
 
 
[Paul Strand]

domingo, 2 de março de 2025

Mais ou menos assim -

“Me has quitado el demonio de la tristeza y el del desaliento; me has quitado esa oscuridad que yo tenía siempre enfrente de mí y me has hecho menos dolorosa la vida. no te amo por nada, sino por eso, porque has sabido ser maravillosa para mí”.

[Cartas de Juan Rulfo a Clara]

sábado, 1 de março de 2025

La donna è mobile qual piuma al vento


                                        ou sempre o coração se torna bravo onde se acha e o encontram]

 


[São Tomé, Fevereiro 2025]