domingo, 10 de novembro de 2019

A noite a latir na memória


Não podia deixar de amá-la porque o esquecimento não existe
e a memória é um mutatis mutandis, de maneira que sem querer
amava as distintas formas sob as quais ela aparecia
em sucessivas transformações e aflorava-me a nostalgia de todos os lugares
aonde jamais havíamos estado, e desejava-a nos parques
em que nunca a desejei e morria de reminiscências pelas coisas
que já não conheceríamos e eram tão violentas e inolvidáveis
como as poucas coisas que havíamos conhecido.

[Cristina Peri Rossi]

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