quinta-feira, 3 de abril de 2025

His face my brain

 I

He was all beautiful: as fair

As summer in the silent trees;

As bright as sunshine on the leas;

As gentle as the evening air.

 

His voice was swifter than the lark;

 

Softer than thistle-down his cheek;

His eyes were stars that shyly break

At sundown ere the skies are dark.

 

I found him in a lowly place:

 

He sang clear songs that made me weep:

Long nights he ruled my soul in sleep:

Long days I thought upon his face.


[John Addington Symonds]

terça-feira, 11 de março de 2025

Leitor:

Mesmo que a vida te pese

e não chegues a saber

se o amor é um abrigo

ou um abismo.

[Rui Pires Cabral]

You've hurt me

but I've hurt other people before,

so I guess it's ok


 

[František Drtikol]

segunda-feira, 10 de março de 2025

As time goes by

 «Meu rapaz, você é demasiado violento», disse o director. «Está a enterrar o seu futuro!»

«Não quero ter um futuro, quero ter um presente. Isso parece-me ter mais valor. Só se tem um futuro quando não se tem um presente, e quem tem um presente não se lembra sequer de pensar num futuro».

[Robert Walser]

O que acontece onde tudo acontece


A poesia é onde tudo acontece. Como o amor, o humor, o suicídio e todos os actos fundamentalmente subversivos, a poesia ignora tudo menos a sua própria liberdade e a sua própria verdade. Dizer “liberdade” e “verdade” em referência ao mundo em que vivemos (ou não vivemos) é dizer uma mentira. Só não é mentira quando se atribui estas palavras à poesia: o lugar onde tudo é possível.

Em oposição ao sentimento de exílio, ao sentimento de saudade perpétua, está a terra prometida pelo poema. A cada dia os meus poemas são mais curtos: pequenos fogos para quem se perdeu numa terra estranha. Em poucas linhas, tenho por hábito encontrar os olhos de alguém que conheço à minha espera; coisas reconciliadas, coisas hostis, coisas que produzem incessantemente o desconhecido; e a minha sede perpétua, a minha fome, o meu horror. Daí vem a invocação, a evocação, a conjuração. Em termos de inspiração, a minha crença é completamente ortodoxa, mas isso não me limita de forma alguma. Pelo contrário, permite-me debruçar-me sobre um único poema durante muito tempo. E faço-o de uma forma que lembra, talvez, o gesto de um pintor: Fixo a folha de papel na parede e contemplo-a; mudo palavras, apago linhas. Por vezes, quando apago uma palavra, imagino outra no seu lugar, mas sem saber sequer o seu nome. Depois, enquanto espero por aquela que quero, faço um desenho no espaço vazio que alude a ela. E esse desenho é como um ritual de convocação. (Acrescento que a minha atracção pelo silêncio me permite unir, no espírito, a poesia à pintura; nesse sentido, aquilo a que outros chamariam o momento privilegiado, chamo eu de espaço privilegiado).

[Alejandra Pizarnik]

Ser outra; perigoso e necessário

 

Fazer pelo menos uma vez o que nunca se fez. Seguir, nem que seja um dia, uma hora, um caminho diferente daquele que o caráter nos dispôs.

[Christian Bobin]

sábado, 8 de março de 2025

quinta-feira, 6 de março de 2025

Rivers and roads


                                                Oh rivers 'til I reach you



[Micoló, São Tomé, Fevereiro 2025]

quarta-feira, 5 de março de 2025

Escaleras de metal


Quase tão casta como uma faca,

puro metal de morte.

[sylvia plath]

: Ya no me recuerdo en que desilusión me dejaste de importar

 

Porque viajaste?
Porque a casa estava fria.
Porque viajaste?
Porque é o que sempre fiz entre o crepúsculo e a aurora.
O que vestiste?
Vesti um fato azul, uma camisa branca, uma gravata amarela e
                                                                         meias amarelas.
O que vestiste?
Não me vesti. Um lenço de dor manteve-me quente.
Com quem dormiste?
Dormi com uma mulher diferente em cada noite.
Com quem dormiste?
Dormi sozinho. Dormi sempre sozinho.
Porque me mentes?
Sempre pensei que te dizia a verdade.
Porque me mentes?
Porque a verdade mente como nenhuma outra e eu amo a verdade.
Porque partes?
Porque nada significa já muito para mim.
Porque partes?
Não sei. Nunca soube.
Quanto tempo deverei esperar por ti?
Não esperes por mim. Estou cansado e quero descansar.
Estás cansado e queres descansar?
Sim, estou cansado e quero descansar.
 
 
[Paul Strand]

domingo, 2 de março de 2025

Mais ou menos assim -

“Me has quitado el demonio de la tristeza y el del desaliento; me has quitado esa oscuridad que yo tenía siempre enfrente de mí y me has hecho menos dolorosa la vida. no te amo por nada, sino por eso, porque has sabido ser maravillosa para mí”.

[Cartas de Juan Rulfo a Clara]

sábado, 1 de março de 2025

La donna è mobile qual piuma al vento


                                        ou sempre o coração se torna bravo onde se acha e o encontram]

 


[São Tomé, Fevereiro 2025]

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Em redor e na busca

 Tomo menos milk-shake e levo uma vida diária vazia e agitada. Passo o tempo todo pensando – não raciocinando, não meditando mas pensando, pensando sem parar. E aprendendo, não sei o quê, mas aprendendo. E com a alma mais sossegada (não estou totalmente certa). Sempre quis “jogar alto”, mas parece que estou aprendendo que o jogo alto está numa vida diária pequena, em que uma pessoa se arrisca muito mais profundamente, com ameaças maiores. Com tudo isso, parece que estou perdendo um sentimento de grandeza que não veio nunca de livros nem de influência de pessoas, uma coisa muito minha e que desde pequena deu a tudo, aos meus olhos, uma verdade que não vejo mais com tanta frequência. Disso tudo, restam nervos muito sensíveis e uma predisposição séria para ficar calada. Mas aceito tanto agora. Nem sempre pacificamente, mas a atitude é de aceitar.

[Clarice Lispector]

sábado, 22 de fevereiro de 2025

Como la cigarra [


Tantas veces me mataron
tantas veces me morí
sin embargo estoy aquí
resucitando.
Gracias doy a la desgracia
y a la mano con puñal
porque me mató tan mal
y seguí cantando.
Tantas veces me borraron
tantas desaparecí
a mi propio entierro fui
sola y llorando.
Hice un nudo en el pañuelo
pero me olvidé después
que no era la última vez
y volví cantando.
Tantas veces te mataron
tantas resucitarás
tantas noches pasarás
desesperando.
A la hora del naufragio
y la de la oscuridad
alguien te rescatará
para ir cantando.
Cantando al sol como la cigarra
después de un año bajo la tierra
igual que sobreviviente
que vuelve de la guerra.

[María Elena Walsh:]