A caserna vazia demora-se na paisagem como um remorso. Os olhos que a
invadem circulam com um ócio canino. As tarimbas esqueléticas,
deprimidas pela ferrugem. Uma ou outra roupa mastigada pelo vento, suada
ainda. Talvez numa parede a alvorada continue a decantar o seu susto.
Talvez tudo possa ser resgatado com suficiente dedicação. A apneia do
entendimento é um outro respirar. Os perfumes do mundo são uma flor que
rebenta no imo alheio.
Pergunta-se: os soldados? E eles semeiam-se com as suas imagens
insuportáveis, com as suas simples palavras cingidas nos punhos ternos.
São eles as minas que povoam a terra, à espera de que um pé lhes finde a
explosão. Minas do avesso. Minas deflagradas à nascença. E a avultada
esperança de já não ter de corroer o tecido da carne, de já não ter de
arremessar pontos finais para o espaço.
Repousa, sufocado coração da juventude, repousa. A guerra foi a porta
que abriste para o relento. À noite, o digladiar-se dos ramos é um
cântico desarmado. E todo o firmamento um sopro de pálpebras.
[Vasco Gato]
Sem comentários:
Enviar um comentário