sexta-feira, 2 de maio de 2014

How I adore you, and how little you do


Aqui disseste:
"são belos
os olhos húmidos dos cavalos".
E aqui: "adoro o vento".
Percorro eu teus passos, revivo-te as palavras.
E amo-te no chão que pisaste,
na mesa de pinho
que guarda ainda a carícia da tua mão,
o cigarro desfeito
esquecido no fundo do bolso.
Percorro cada rua onde andaste
e sei
que amaste a bétula e esta janela.
Aqui disseste: "assim eu sou,
como essa música,
alegre e triste a um tempo".
E amo-te
no cheiro que tem meu corpo do teu corpo,
na canção feliz
que volta e torna a voltar à tristeza minha.
No dia gelado
em que respiras sei lá onde.
Na poeira, no vento,
nessa nuvem que não olharás,
no meu olhar que te calcou
e prendeu no fundo mais triste,
em teus beijos selados em meus lábios,
e nas minhas mãos vazias,
pois és hoje vazio
e no vazio te amo.

[Piedad Bonnett]

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