quinta-feira, 17 de julho de 2025

De vires ou um barco contra o vento

 

Falei de ti com as palavras mais limpas,

viajei, sem que soubesses, no teu interior.
Fiz-me degrau para pisares, mesa para comeres,
tropeçavas em mim e eu era uma sombra
ali posta para não reparares em mim.
Andei pelas praças anunciando o teu nome,
chamei-te barco, flor, incêndio, madrugada.
Em tudo o mais usei da parcimónia
a que me forçava aquele ardor exclusivo.
Hoje os versos são para entenderes.
Reparto contigo um óleo inesgotável
que trouxe escondido aceso na minha lâmpada
brilhando sem que soubesses, por tudo o que fazias.

[Fernando Assis Pacheco]

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Mãe

 

Trago-te em mim como uma ferida

que não se fecha em minha fronte.

Nem sempre dói. E não se apouca

ao coração por ela a vida.

Só fico às vezes cego de repente e sinto

sangue na boca.

[Gottfried Benn]

sexta-feira, 30 de maio de 2025

I am less than I used to be, but somehow more than I ever was.




                                                                                [São Tomé 2025]

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Uma ilha, sempre uma ilha


Infelizmente este lugar é demasiado belo para que o deixemos sem um sofrimento intenso. 
O perigo de viver num mundo demasiado bonito. A desagregação "moral" quando abandonamos a corrida e deixamos de ter rivais, porque vivemos fora dos valores correntes. O eu dissolve-se no Paraíso ou em tudo que a ele se assemelhe.
Foi talvez para se salvar que Adão fez o que fez. Temia a ruína pela felicidade.


[Emil Cioran] 

terça-feira, 20 de maio de 2025