quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Que eu encontro meu corpo como uma estátua aonde pombas vêm adormecer


Não tardará a chegar ao fim
este agosto que te viu passar com a luz
a teus pés. Somos eternos, dizias.
Eu pensava antes na danação
da alma ao faltar-lhe o alimento
que lhe trazias. Agora a cidade vive
do peso incomensuravelmente morto
dos dias sem a tua presença. Deixo
a mão correr sobre o papel tentando
captar o eco de uma palavra,
um sinal de quem em qualquer parte
cintila, e confia ao vento o segredo
da nossa tão precária eternidade.
[Eugénio de Andrade]

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