segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

O último encontro


O último encontro foi tristonho.
Eu esperava uma decisão impossível:
que me seguisses a uma cidade ignota
unicamente ligada ao afundamento
de um submarino alemão
e tu esperavas que eu não to propusesse.
Com a vertigem dos suicidas
disse-te: «Vem comigo», adivinhando-o improvável,
e tu — sabendo-o impossível — respondeste:
«É lugar a que nada me prende » e deste a conversa
por arrumada. Pus-me de pé
como quem fecha um livro,
ainda que soubesse — as cicatrizes reconhecem-se –
que agora começava outro capítulo.
Ia sonhar contigo — numa cidade ignota –
onde apenas um velho submarino alemão
se deu por perdido.
Ia escrever-te cartas que não te enviaria.
E tu, ias esperar o meu regresso
- Penélope infiel — com ambiguidade,
sabendo que os meus curtos regressos
não seriam definitivos. Não sou Ulisses. Não
conheci Ítaca. Tudo o que perdi
perdi-o muito ciente
e o que não ganhei
foi por desleixo. O último encontro
foi, sim, um pouco triste.

[Cristina Peri Rossi]

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